ALEXANDRE O'NEILL
Periclitam os grilos
Periclitam os grilos:
a noite é nada.
Quem tem filhos tem cadilhos.
(Que quadra tão bem rimada!)
Não espere, leitor, que eu diga:
«Debaixo daquela arcada...»
Não venho fazer intriga:
versejo só - e mais nada.
Assim o terceiro verso
desta tirada
(reparou que é um provérbio?)
não significa nada.
Se a noite é nada e os grilos
não estão de asa parada,
não vou puxar, só por isso,
o fio à sua meada,
leitor que me pede a história
que já trás engatilhada,
leitor que não se habitua
a que não aconteça nada
em poesia que comece
como esta foi começada
e acabe como esta
vai ser agora acabada...
ALEXANDRE O'NEILL (1924-1986)
1 commentaire:
http://www.youtube.com/watch?v=uJPg2akSvVA
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